quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Reverberações do FIAC II

POGOBOL (Plano piloto) - (Performance - Brasil, Bahia) - Teatro do Goethe Institut

Paula Lice, do Dimenti, apresenta uma performance que parece baseada num fluxo de pensamento (método usado pos alguns artistas surrealistas), onde as palavras e imagens que vão surgindo na mente do performer, sem interferência de um texto preestabelecido, apenas um roteiro de ações e/ou movimentos.
Sempre usando referências pop - nesta apresentação, Paula estava especialmente "focada" nos anos 80 -, vamos acompanhando o ritmo estonteante do pensamento de uma atriz.
Destaque visual para o figurino elaboradíssimo e à maquiagem que emprestam um requinte à cena.
Perto do final da apresentação, Paula percorre as pastas virtuais de seu notebook (o que testemunhamos através de um projetor) e escreve uma espécie de carta, em escrita automática, para o público, enquanto toca uma canção de Fátima Guedes.
Numa das pastas, uma sugestão de título para a performance, que talvez traduza melhor a atmosfera geral da apresentação: Trevas diversas.
Fica a sugestão.


Celso Jr.


In: http://cadernosgrampeados.zip.net/

Reverberações do FIAC I


Tenho uma impressão que o lugar da Performance no mundo das artes é uma espécie de mundo ideal. Pois lá tudo pode, tudo é permitido, a liberdade intelectual e emotiva do artista é   reverenciado e suas idiossincrasias potencializadas. Mas me pergunto sempre: devemos aceitar tudo que venha de um performer só porque é um terreno onde tudo pode?
Pogobol, recente trabalho de Paula Lice, artista pertencente ao grupo Dimenti, (Salvador/BA) trouxe de novo a questão para o centro do foco. Não sei dizer se gostei, porque não entendo. Minha sensibilidade não é atingida. Mas tenho consciência que a atriz não quer agradar ou desagradar, ela quer apenas compartilhar seu universo, e referenciar suas particularidades.
Paula Lice é uma artista inquieta. Não está disposta a fornecer respostas e sim expor suas inquietações. Também não é o tipo de artista que perde tempo com perguntas já respondidas. Quando isso ocorre, parte para outros assuntos em abertos. Como se ao se questionar cotidianamente pudesse assim, fornecer combustível para sua arte.
Mas vamos à cena em questão: Um ser travestido – ótimo figurino creditado a Rino Carvalho – surge e começa a se desmontar sem muita linearidade. Não se sabe ao certo quem é, para onde vai, e o que faz ali. Bom, raramente os seres humanos têm respostas para essas questões.
O tal ser, se expressa e o que percebemos é que não há uma rota pré-estabelecida.  Paula tem empatia, ganha a platéia logo de inicio. Mas me perguntei: uma boa performer garante uma boa performance? Não se sabe o porquê da maquiagem, não sabemos o porquê do video, não sabemos o porquê da massinha e nem o porquê do grito. Problemas com os peitos? Essa falta de lógica bloqueia minha sensibilidade.
Me avisam: é performance. Como isso se justificasse, para mim não, careço de mais. Há boas sacadas, como o momento em que a atriz digita em seu lap top – projetado na parede, texto que surge no momento em que é pensando. Também é bom quando há um erro de contra regragem, pois agita um pouco a bagunça pré-arrumada da artista.
O momento da dublagem é legal, o figurino é utilizado a contento e é bom ver a atriz correndo o risco de errar a letra. Mas quem é, o que foi fazer ali e o que quer me comunicar aquele ser, eu não sei. Não compreendo. Assumi recentemente esse lugar da não compreensão. Porque às vezes não conseguimos digerir mesmo, e tudo é simples assim, sem drama.
Pogobol me parece hermético demais. E isso não é um demérito, pode ser proposital. Uma provocação da artista que odeia rótulos, enquadramentos. Mas, me pergunto: tá e ai? O que faço com isso? O que Paula quis diz afinal?Comunicar, dividir, qual memória ela quis potencializar? Mais que respostas, Pogobol abre muitas perguntas e há poucos indícios de se achar respostas para tais inquietações.
Rodolfo Lima

sábado, 29 de outubro de 2011

Para crescer e ficar forte

Ontem rolou Pogobol pelo FIAC. Algumas coisas:
- O som não pegou, fiz de som de notebook. Semi-trevas! Mas rolou.
- Sinto que palavras como "lembrei", "memória", "lembrança", não devem fazer parte do que falo.
- Continuo achando que falar menos é melhor.
- Definitivamente, o comentário só é bem-vindo em pouquíssimos momentos. A frase curta, a frase-armadilha, causa mais impacto quando vem sem explicação. E a explicação da explicação redunda.
- Relação com a platéia: um troço a se pensar. Não tenho gostado mais da fala direta. Pelo menos até agora.
- Preciso de mais repertório musical específico.
- O estado de concentração no jogo esteve melhor do que na apresentação em Curitiba, mas menos dinâmico do que na apresentação no Recife.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

registros e congêneres

Paula pulou sábado em Recife.
Paula pulará amanhã em Curitiba.
É Pogobol se cosmopolitizando assim. Tirá o pé do chão BRASEL!
Lourenço foi lá?
(...)
No ensaio, semana passada, apareceram um cachorro e uma plantação de maçãs.
Paula parecia cega até uma hora e eu vi Michel.
Eu gosto quando tem o fluxo verbal. Você falou até gastar.
Se pudermos flagarmos um hiato, talvez, a hora “Alice” é um hiato (hiatão) lírico.
Os acidentes devem se assumir como acidentes? Blá!
Again: a potência do caos.
Pogobol é o ordinário descontínuo.
Conclui-se, portanto: Intimidade é diferente de Cumplicidade.
Pogobol nos intriga. PocaBlá!
Não esquece a drag fechação cada vez mais e equilibrar (?) massa com figurino!
Estou exclamativo. É vontade de pular nos ais com a Sra. e Gu.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Um corpo que escreve de azul num céu azul

Bom, em cena ela diz que gosta de começar assim. Mas o começo do espetáculo que vi podia ser uma aparição de um super-herói, um bicho estranho, um dragão, uma drag-queen com trejeitos de criança... tudo menos um início singelo.

No espetáculo Pogobol a impressão que me ficou do espaço cênico foi de uma grande lousa em que as ações da performer eram riscos de giz esboçando desenhos que tinham um pacto único: o momento.

Início: a atriz/performer Paula Lice se posiciona ao fundo do palco, sua presença se agiganta, olhar determinado no horizonte, dá uma saculejada, uns pulinhos e o desenho heróico anunciador do início se desfaz. Mais uma ação se seguirá criando a iminência de grandes gestos ou acontecimentos “importantes” e, como num continuum, irá se desfazer para dar lugar a uma outra. A performance, nesse sentido, é um convite para nos conduzir por saltos ou imagens que se desmancham como numa lousa.

Um desafio que parece despretensioso, pequeno, mas guarda uma pretensão poética sutil que tangencia a borda do risco de tornar tudo uma grande bobagem. Lembro da frase do músico experimental suíço-baiano Walter Smetak, “escrevo com lápis azul num céu azul”. A aposta no efêmero e transitório, nas idéias minúsculas, muitas vezes camufladas de momentos maiúsculos no trabalho, é um gesto corajoso e pretensioso que não pode estar inocente em relação às suas pretensões.

Os riscos de uma dramaturgia sustentada por um fio de cabelo, escolhida pela parceria artística Paula Lice e Gustavo Bitencourt, que dividem a direção do espetáculo, são muitos: acreditar que é um Midas: em tudo que toco vira ouro, por tanto tudo que faço é maravilhoso; acreditar em Roberto Carlos: pensar a platéia como um milhão de amigos, olhando tudo com afeto e generosidade; acreditar em Duendes: apostar tudo na magia e no mistério da sua própria imaginação; e por aí vai. Como o espetáculo joga improvisando, estamos sempre na beira desses precipícios.

Todos esses riscos passam pela postura da não aceitação da ingenuidade em cena, pois até o comentário crítico – dentro desse contexto de coisas mínimas – numa vacilação do tom de como for dito pode soar como comentário “inteligente” ou “desmascarador de verdades”. Isso atravessa alguns momentos, mas não é o que predomina no trabalho. Paula Lice é uma grande performer em cena, sustenta um jogo atento e irônico com a platéia fazendo com que acompanhemos a sua dispersão criativa com grande interesse.

Entre tantos alertas para Duendes, Midas, Roberto Carlos... (podia ser menos alertas, nera?) Espero poder acompanhar e rever mais vezes os prazerosos saltos de giz de Pogobol. Dentro do espírito das meninas do âncora do marujo, quero parabenizar mais uma vez a coragem e ousadia dessa equipe que enfrenta esses riscos toda trabalhada no salto, cabelo, cílio e figurino, tudo feito com um engajamento sério e competente. Convidar Gina de Mascar pro Pogobol como mais uma colaboradora ia ser muito bom, nera?


(Uma fruição crítica e pessoal de Léo França sobre POGOBOL)