quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Reverberações do FIAC I


Tenho uma impressão que o lugar da Performance no mundo das artes é uma espécie de mundo ideal. Pois lá tudo pode, tudo é permitido, a liberdade intelectual e emotiva do artista é   reverenciado e suas idiossincrasias potencializadas. Mas me pergunto sempre: devemos aceitar tudo que venha de um performer só porque é um terreno onde tudo pode?
Pogobol, recente trabalho de Paula Lice, artista pertencente ao grupo Dimenti, (Salvador/BA) trouxe de novo a questão para o centro do foco. Não sei dizer se gostei, porque não entendo. Minha sensibilidade não é atingida. Mas tenho consciência que a atriz não quer agradar ou desagradar, ela quer apenas compartilhar seu universo, e referenciar suas particularidades.
Paula Lice é uma artista inquieta. Não está disposta a fornecer respostas e sim expor suas inquietações. Também não é o tipo de artista que perde tempo com perguntas já respondidas. Quando isso ocorre, parte para outros assuntos em abertos. Como se ao se questionar cotidianamente pudesse assim, fornecer combustível para sua arte.
Mas vamos à cena em questão: Um ser travestido – ótimo figurino creditado a Rino Carvalho – surge e começa a se desmontar sem muita linearidade. Não se sabe ao certo quem é, para onde vai, e o que faz ali. Bom, raramente os seres humanos têm respostas para essas questões.
O tal ser, se expressa e o que percebemos é que não há uma rota pré-estabelecida.  Paula tem empatia, ganha a platéia logo de inicio. Mas me perguntei: uma boa performer garante uma boa performance? Não se sabe o porquê da maquiagem, não sabemos o porquê do video, não sabemos o porquê da massinha e nem o porquê do grito. Problemas com os peitos? Essa falta de lógica bloqueia minha sensibilidade.
Me avisam: é performance. Como isso se justificasse, para mim não, careço de mais. Há boas sacadas, como o momento em que a atriz digita em seu lap top – projetado na parede, texto que surge no momento em que é pensando. Também é bom quando há um erro de contra regragem, pois agita um pouco a bagunça pré-arrumada da artista.
O momento da dublagem é legal, o figurino é utilizado a contento e é bom ver a atriz correndo o risco de errar a letra. Mas quem é, o que foi fazer ali e o que quer me comunicar aquele ser, eu não sei. Não compreendo. Assumi recentemente esse lugar da não compreensão. Porque às vezes não conseguimos digerir mesmo, e tudo é simples assim, sem drama.
Pogobol me parece hermético demais. E isso não é um demérito, pode ser proposital. Uma provocação da artista que odeia rótulos, enquadramentos. Mas, me pergunto: tá e ai? O que faço com isso? O que Paula quis diz afinal?Comunicar, dividir, qual memória ela quis potencializar? Mais que respostas, Pogobol abre muitas perguntas e há poucos indícios de se achar respostas para tais inquietações.
Rodolfo Lima

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