quarta-feira, 27 de abril de 2011

Nova proposta de tarefa

A gente tinha meio combinado de conversar sobre a escrita automática ao final de uma semana, que completa amanhã se não me engano. Mas aí eu fiquei pensando que não adianta muito essa conversa se a gente não escolher previamente o que vai observar. Aí, pensando nas questões que já apareceram até agora, eu queria propor uns pontos, pra você reler esse material assim que concluir (acho que não precisa ler tudo tudo, é mais um scanning), e ir anotando (isso pode ser no computador).

Fiz uma separação meio capenga de tipos de questões, que é mais metodológica que real.

DO ASSUNTO:
- De que se fala com mais frequência? (É cotidiano? Observação? Descrição? Divagação? São coisas próximas ou distantes?)
- De quem se fala com mais frequência? (De você? Dos outros? De gente que você conhece? Gente famosa? Gente presente? Gente que você não vê faz tempo?)
- Pra quem se fala? (Dá pra identificar a quem se direciona essa escrita? É mais em primeira, segunda ou terceira pessoa? Os interlocutores variam?)
- Existem pontos que você identificaria como ficcionais? E reais?(E, nesse caso, o critério usado pra chamar de ficção e realidade também seria legal anotar)

DA ESTRUTURA:
- Que tipos de organizações de pensamento aparecem? (Tem títulos? Tópicos? Flechinhas? Desenhos? As ideias se completam? Ficam abertas? Somem e reaparecem? Tem parágrafos? Tem linhas soltas? As frases são mais curtas ou mais longas?)
- Como você lida com os erros? (Risca por cima? Continua como se nada tivesse acontecido? Descreve o erro?)
- Como são as pontuações e sinais gráficos? (Tem muitos parênteses? Vírgulas? A pontuação é certinha? Só quando pinta?)
- Tem interrupções ou pausas? Como elas são sinalizadas?
- Existe algum padrão pra começar e terminar?

DO DESENHO:
- Como é a letra? (Fluida? Feia? Caprichada? Corrida? De forma? Borrada?)
- Como o texto se distribui na página (Uniformemente? Disperso? Grudadinho? Segue margens e linhas?)

DAS VARIAÇÕES:
- Seria legal se você pudesse anotar também se há variações em todos esses aspectos ao longo do tempo, em duas categorias: as que aconteceram ao longo da semana, e as que aconteceram ao longo dos 15 minutos de cada dia.

DAS EVOCAÇÕES:
- Também acho legal anotar os momentos na releitura, que evocaram, ou que mais evocaram, sensações, sentimentos, afetos, texturas, cores etc. do momento da escrita e se existe algum padrão pra que isso aconteça.

Aí, se você topar, a gente pode marcar de conversar depois disso, porque acho que algumas coisas vão estar mais claras. Vc dá o sinal.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Entrando

Fui para as Neurociências hoje. Achei esta entrevista:


Ivan Izquierdo tem dois livros interessantes que pensei em consultar: Questões sobre memória e A arte de esquecer. Tô pensando...

Fiz comentários no post anterior durante minha leitura da entrevista. Adoro as passagens em que ele busca exemplos na literatura, na música, no cinema para nos fazer compreender a memória.

Rebuliu várias coisas por dentro. Não é assim que começam os furacões?

Pirilampos, aqui vaga-lumes

Memória demais escraviza, memória de menos também. Memória é imaginação.

Alice de Tim

Sobre a Alice de Tim:

http://www.tylershores.com/2010/03/10/aliceinwonderlandreviewed/

Alguns pontos-chiclete:

A Alice do filme de Tim Burton, agora com 19 anos, volta a Wonderland (Underland) sem memória de que lá já esteve. As pessoas do lugar se perguntam se esta Alice é aquela Alice. She doesn’t seem to understand.

There’s no time for childlike indulgence at tea parties this time around before being rushed off to the next danger: there’s work to be done. Fate, determinism and free will are some of the central themes – how can Alice choose her own path, as she is determined to do, if destiny has already foretold that she is the one to take up the Vorpal Sword and save the day?

The visual story that is being told is one of desolation and darkness – perhaps the implicit question to be asked in such a style is that, in the absence of wonder (from “wonder” to “under”), what then is there?

Such is the challenge of working within an old story is how to make the familiar unfamiliar.

Vamos fazer microfilmes?

domingo, 24 de abril de 2011

Alice in Wonderland and The Philosophy of Memory

http://www.tylershores.com/2010/03/13/alice-and-the-philosophy-of-memory/

Achei esse livro na internet, e me interessei por esse capítulo em particular. Ele colocou só um pedacinho no site, mas já mandei um e-mail bem cara de pau, perguntando se ele não pode mandar o capítulo na íntegra pra gente.

sábado, 23 de abril de 2011

Daniel Kahneman: O enigma da experiência x memória



Ou clicando aqui dá pra ver com legendas. 

Exercício de memória número um

- Blog (Check)
- 15 minutos de escrita durante uma semana no caderninho (em processo)
- Conversas com pessoas afins (gente fina elegante e sincera) (será?)
- Definir a metodologia da metodologia com as pessoas (oh, God!)
- Datas (verificar/marcar fixo)

Para Maria da Graça

Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo" Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor`.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

Paulo Mendes Campos