quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Reverberações do FIAC II

POGOBOL (Plano piloto) - (Performance - Brasil, Bahia) - Teatro do Goethe Institut

Paula Lice, do Dimenti, apresenta uma performance que parece baseada num fluxo de pensamento (método usado pos alguns artistas surrealistas), onde as palavras e imagens que vão surgindo na mente do performer, sem interferência de um texto preestabelecido, apenas um roteiro de ações e/ou movimentos.
Sempre usando referências pop - nesta apresentação, Paula estava especialmente "focada" nos anos 80 -, vamos acompanhando o ritmo estonteante do pensamento de uma atriz.
Destaque visual para o figurino elaboradíssimo e à maquiagem que emprestam um requinte à cena.
Perto do final da apresentação, Paula percorre as pastas virtuais de seu notebook (o que testemunhamos através de um projetor) e escreve uma espécie de carta, em escrita automática, para o público, enquanto toca uma canção de Fátima Guedes.
Numa das pastas, uma sugestão de título para a performance, que talvez traduza melhor a atmosfera geral da apresentação: Trevas diversas.
Fica a sugestão.


Celso Jr.


In: http://cadernosgrampeados.zip.net/

Reverberações do FIAC I


Tenho uma impressão que o lugar da Performance no mundo das artes é uma espécie de mundo ideal. Pois lá tudo pode, tudo é permitido, a liberdade intelectual e emotiva do artista é   reverenciado e suas idiossincrasias potencializadas. Mas me pergunto sempre: devemos aceitar tudo que venha de um performer só porque é um terreno onde tudo pode?
Pogobol, recente trabalho de Paula Lice, artista pertencente ao grupo Dimenti, (Salvador/BA) trouxe de novo a questão para o centro do foco. Não sei dizer se gostei, porque não entendo. Minha sensibilidade não é atingida. Mas tenho consciência que a atriz não quer agradar ou desagradar, ela quer apenas compartilhar seu universo, e referenciar suas particularidades.
Paula Lice é uma artista inquieta. Não está disposta a fornecer respostas e sim expor suas inquietações. Também não é o tipo de artista que perde tempo com perguntas já respondidas. Quando isso ocorre, parte para outros assuntos em abertos. Como se ao se questionar cotidianamente pudesse assim, fornecer combustível para sua arte.
Mas vamos à cena em questão: Um ser travestido – ótimo figurino creditado a Rino Carvalho – surge e começa a se desmontar sem muita linearidade. Não se sabe ao certo quem é, para onde vai, e o que faz ali. Bom, raramente os seres humanos têm respostas para essas questões.
O tal ser, se expressa e o que percebemos é que não há uma rota pré-estabelecida.  Paula tem empatia, ganha a platéia logo de inicio. Mas me perguntei: uma boa performer garante uma boa performance? Não se sabe o porquê da maquiagem, não sabemos o porquê do video, não sabemos o porquê da massinha e nem o porquê do grito. Problemas com os peitos? Essa falta de lógica bloqueia minha sensibilidade.
Me avisam: é performance. Como isso se justificasse, para mim não, careço de mais. Há boas sacadas, como o momento em que a atriz digita em seu lap top – projetado na parede, texto que surge no momento em que é pensando. Também é bom quando há um erro de contra regragem, pois agita um pouco a bagunça pré-arrumada da artista.
O momento da dublagem é legal, o figurino é utilizado a contento e é bom ver a atriz correndo o risco de errar a letra. Mas quem é, o que foi fazer ali e o que quer me comunicar aquele ser, eu não sei. Não compreendo. Assumi recentemente esse lugar da não compreensão. Porque às vezes não conseguimos digerir mesmo, e tudo é simples assim, sem drama.
Pogobol me parece hermético demais. E isso não é um demérito, pode ser proposital. Uma provocação da artista que odeia rótulos, enquadramentos. Mas, me pergunto: tá e ai? O que faço com isso? O que Paula quis diz afinal?Comunicar, dividir, qual memória ela quis potencializar? Mais que respostas, Pogobol abre muitas perguntas e há poucos indícios de se achar respostas para tais inquietações.
Rodolfo Lima

sábado, 29 de outubro de 2011

Para crescer e ficar forte

Ontem rolou Pogobol pelo FIAC. Algumas coisas:
- O som não pegou, fiz de som de notebook. Semi-trevas! Mas rolou.
- Sinto que palavras como "lembrei", "memória", "lembrança", não devem fazer parte do que falo.
- Continuo achando que falar menos é melhor.
- Definitivamente, o comentário só é bem-vindo em pouquíssimos momentos. A frase curta, a frase-armadilha, causa mais impacto quando vem sem explicação. E a explicação da explicação redunda.
- Relação com a platéia: um troço a se pensar. Não tenho gostado mais da fala direta. Pelo menos até agora.
- Preciso de mais repertório musical específico.
- O estado de concentração no jogo esteve melhor do que na apresentação em Curitiba, mas menos dinâmico do que na apresentação no Recife.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

registros e congêneres

Paula pulou sábado em Recife.
Paula pulará amanhã em Curitiba.
É Pogobol se cosmopolitizando assim. Tirá o pé do chão BRASEL!
Lourenço foi lá?
(...)
No ensaio, semana passada, apareceram um cachorro e uma plantação de maçãs.
Paula parecia cega até uma hora e eu vi Michel.
Eu gosto quando tem o fluxo verbal. Você falou até gastar.
Se pudermos flagarmos um hiato, talvez, a hora “Alice” é um hiato (hiatão) lírico.
Os acidentes devem se assumir como acidentes? Blá!
Again: a potência do caos.
Pogobol é o ordinário descontínuo.
Conclui-se, portanto: Intimidade é diferente de Cumplicidade.
Pogobol nos intriga. PocaBlá!
Não esquece a drag fechação cada vez mais e equilibrar (?) massa com figurino!
Estou exclamativo. É vontade de pular nos ais com a Sra. e Gu.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Um corpo que escreve de azul num céu azul

Bom, em cena ela diz que gosta de começar assim. Mas o começo do espetáculo que vi podia ser uma aparição de um super-herói, um bicho estranho, um dragão, uma drag-queen com trejeitos de criança... tudo menos um início singelo.

No espetáculo Pogobol a impressão que me ficou do espaço cênico foi de uma grande lousa em que as ações da performer eram riscos de giz esboçando desenhos que tinham um pacto único: o momento.

Início: a atriz/performer Paula Lice se posiciona ao fundo do palco, sua presença se agiganta, olhar determinado no horizonte, dá uma saculejada, uns pulinhos e o desenho heróico anunciador do início se desfaz. Mais uma ação se seguirá criando a iminência de grandes gestos ou acontecimentos “importantes” e, como num continuum, irá se desfazer para dar lugar a uma outra. A performance, nesse sentido, é um convite para nos conduzir por saltos ou imagens que se desmancham como numa lousa.

Um desafio que parece despretensioso, pequeno, mas guarda uma pretensão poética sutil que tangencia a borda do risco de tornar tudo uma grande bobagem. Lembro da frase do músico experimental suíço-baiano Walter Smetak, “escrevo com lápis azul num céu azul”. A aposta no efêmero e transitório, nas idéias minúsculas, muitas vezes camufladas de momentos maiúsculos no trabalho, é um gesto corajoso e pretensioso que não pode estar inocente em relação às suas pretensões.

Os riscos de uma dramaturgia sustentada por um fio de cabelo, escolhida pela parceria artística Paula Lice e Gustavo Bitencourt, que dividem a direção do espetáculo, são muitos: acreditar que é um Midas: em tudo que toco vira ouro, por tanto tudo que faço é maravilhoso; acreditar em Roberto Carlos: pensar a platéia como um milhão de amigos, olhando tudo com afeto e generosidade; acreditar em Duendes: apostar tudo na magia e no mistério da sua própria imaginação; e por aí vai. Como o espetáculo joga improvisando, estamos sempre na beira desses precipícios.

Todos esses riscos passam pela postura da não aceitação da ingenuidade em cena, pois até o comentário crítico – dentro desse contexto de coisas mínimas – numa vacilação do tom de como for dito pode soar como comentário “inteligente” ou “desmascarador de verdades”. Isso atravessa alguns momentos, mas não é o que predomina no trabalho. Paula Lice é uma grande performer em cena, sustenta um jogo atento e irônico com a platéia fazendo com que acompanhemos a sua dispersão criativa com grande interesse.

Entre tantos alertas para Duendes, Midas, Roberto Carlos... (podia ser menos alertas, nera?) Espero poder acompanhar e rever mais vezes os prazerosos saltos de giz de Pogobol. Dentro do espírito das meninas do âncora do marujo, quero parabenizar mais uma vez a coragem e ousadia dessa equipe que enfrenta esses riscos toda trabalhada no salto, cabelo, cílio e figurino, tudo feito com um engajamento sério e competente. Convidar Gina de Mascar pro Pogobol como mais uma colaboradora ia ser muito bom, nera?


(Uma fruição crítica e pessoal de Léo França sobre POGOBOL)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Estréia POGOBOL

O Plano Piloto, projeto de trabalhos individuais do Dimenti Produções Culturais, aporta no Icba, quinta, sexta e sábado, às 20h. Nesse primeiro fim de semana, tem minha estréia e a de Vanessa Mello. Depois, a temporada segue com os trabalhos dos outros Dimentis. Apareçam para ver o meu Pogobol e o Xou de Vanessa Mello!

Mais informações sobre cada trabalho em http://www.dimenti.com.br/​blog/.


Ficou assim o release do folder ó

Foi assim: eu pensei memória e, algumas possibilidades metodológicas depois, chegamos à tradução. Memória como imaginação/ficção. Tradução como o enunciado que o meu corpo produz para dar conta das imagens que pretendo compartilhar. Tá. Então, o que se vê em cena é um jogo de traduções corpovocais de um imaginário particular – o meu. Ou: é encadeamento de memória corridinha. Outra forma de dizer: a partir de exercícios pré-estabelecidos, a criação foi se desenhando como uma tradução corpovocal de imagens produzidas a partir do repertório pessoal da intérprete. Outra: a dramaturgia elege algumas regras-norte e constrói uma apresentação que se desfaz e se refaz de maneira diferente a cada dia. Ou: Pogobol evoca uma memória perdida e recuperada de outra maneira. Informa sobre saltos físicos e temporais. E, como a memória, torna uma ausência presente. Tá. Ah, é improvisado e pode ter MacGyver.

Ficha técnica:
Atuação/Direção/Dramaturgia: Paula Lice
Colaboração/Direção: Gustavo Bitencourt
Colaboração/Preparação Corporal: Saulo Moreira
Iluminação: Márcio Nonato
Figurino e maquiagem: Rino Carvalho
Costureira: Lucimaureen Agra
Peruca: Agamenon de Abreu
Colaboradores pontuais do processo: Rodrigo Luna (videomaker) e Ronei Jorge/Luciano Simas (direção musical e trilha sonora) do video “Alice”.

domingo, 10 de julho de 2011

Satisfa Retrô

Ensaiamos segunda, terça e sexta, à tarde. Alongamento + mímica. Rigores que eu tento cumprir, mas também desfaleço. Os dois primeiro dias foram luta contra a preguiça, o cansaço, o depois do almoço, minha vontade de inércia. Bons momentos, mas cheios de uma falta de café no cu. Gal viu o segundo dia, convidada de luxo, comentários excelentes, leitura no ponto de vários pontos. Sexta Marcinho, o dono da luz, viu e, novamente, outras pérolas. O menino pensa luz como quem cria comida. Bem de dentro, cozinhando bem pertinho. Essa semana é a última pré-viagem? Que será?

Roteiro Prévio

Começar traduzindo sem as palavras (corpo/som)
Introduzir palavras em discrições mais alongadas
Dinâmica (rápido/lento/rápido) + elementos (massinha, lanterna, giz, giz de cera)
Computador
Livres associações

Da semana

Comprar passagem Gustavo, inscrever no Cena Breve, editar release e definir título, ensaiar 4 x, focar no notebook, pegar fotos com Ellen, checar dimdim.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Satisfa interna

Semana passada, na quinta, encarcamos na mímica. A impro foi atenta e menos histérica. Preciso ativar ponto para fazer a cena se construir mesmo que só saia vento. Saia não, entre. Não filmei, estiquei, troquei de collant. Preciso abrir espaço. Hoje, alongamos bastante e voltamos à mímica. Sinto diferença no meu corpo a partir do trabalho. Sinto que crio conexões diversas e particulares entre as especifidades da mímica e meu repertório pessoal. Não me senti muito atenta hoje, nem concentrada. Mas não quis evitar. Na sala de ensaio, este desturbilhão é possível. Saulo achou o dia mais experimental. Ele comprou um caderno azul, agora somos três. E azuis.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

psicografia*

descrição dos fenômenos psíquicos
descrição psicológica de uma pessoa
ato ou efeito de escrever algo ditado ou sugerido por um
espírito desencarnado
estudo do estilo de vida , atividades, interesses dos consumidores

* cf. Houaiss / para Alan

zebra

espaço preto com algumas listras brancas
listras brancas se atravessando feito ondas
e lá no canto tem uma boladefogo tomando o espaço todo

Pogobol. O meu era - não lembro.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Hoje no palquinho

Hoje reverti a preguiça em humor. Pernoitadíssima, subi no palquinho de madeira, limitando nova forma espacial, e brinquei. Teve Michael, Mcguiver e Odete Roitman morrendo. Usei o notebook pela primeira vez. E óculos escuros. O palco parecia instável, mas não morreria a trinta centímetros do chão. Pulei rapidinho no canto do palquinho, mas essa não foi a tônica. E teve humor que ainda não tinha tido. Gravei de novo. Com o mesmo collant.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pensar em:

Imagens que evocam cheiros.

Bachelard again

Somente pela narração dos outros é que conhecemos a nossa unidade. No fio de nossa história contada pelos outros, acabamos, ano após ano, por parecer-nos com nós mesmos. Reunimos todos os nossos seres em torno da unidade do nosso nome.

A poética do devaneio, ainda.

Autocoisas

Ok. Vi o video do ensaio de hoje. Estranho, mas a possibilidade de se ver fazendo abre outras possibilidades de caminhos. Amanhã será um outro dia.

Scarlett O'hara

Libera o zé

Ensaio hoje. Estaria pela primeira vez sozinha, mas dei o golpe e Rino foi convocado. Conversamos muito antes e depois da improvisação. Hoje: 25mim. Guardei a memória do chão para a próxima. Aos poucos, o corpo vai se condicionando. Caminhei durante 40 mim aqui no condomínio. Tenho vontade de sair correndo com braços e as pernas bem abertos. Mas sou uma mulher reprimida. Dá não. Rs! Amanhã, ensaio com máquina. Hum...

P.S. Libera o Zé, Soluço, Memórias, três dos 25 novos títulos que Rino ia sugerindo enquanto fazia várias leituras interessantes sobre o solo. Viva a contempcoisas!

sábado, 25 de junho de 2011

A teus pés

Não sei para quem me dirijo quando digo que, sim, Gustavo esteve aqui, suamos na sala, traduzimos para o corpo o caderninho e, agora, contamos com mais um parceiro de trabalho: Saulo Moreira, amigo-irmão e colaborador de outros trabalhos, além da vida. Temos também Rino Carvalho no figurino. Vou começar a abrir os ensaios, pelo menos uma vez na semana. Rino estará comigo segunda, Saulo terça e quinta. Quarta, alguém cujo nome não sei. Quem?

Estudando e pensando nas leituras que faço para traduzir as imagens da cena

“Ler será, portanto, fazer emergir a biblioteca vivida, quer dizer, a memória de leituras anteriores e de dados culturais. É raro que leiamos o desconhecido”. (p. 113)

“De fato, a leitura é um jogo de espelhos, avanço especular. Reencontramos ao ler. Todo o saber anterior – saber fixado, institucionalizado, saber móvel, vestígios e migalhas – trabalha o texto oferecido ao deciframento. Não há jamais compreensão autônoma, sentido contruído, imposto pelo livro em leitura. A biblioteca cultural serve tanto para escrever quanto para ler. Chega mesmo a ser, creio eu, a condição de possibilidade da constituição do sentido.” (p. 115)

Trechos de Jean Marie Goulemot - Da leitura como produção de sentidos

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tô verde, me balança, Gus!

Primeira imagem da bagaça. Parceiro-cúmplice Rodrigo Luna, videomaker e coreógrafo da Bahia, topou e lá fomos. Momentos antes da queda no buraco? Quero um pogobol para pular. Quero e pronto!

domingo, 22 de maio de 2011

Gravando

Bom, não sei bem por que, mas invoquei de fazer um vídeo. Primeiro veio a imagem, algumas, e depois essa cosquinha. Chamei Rodrigo Luna, amigo-videomaker-que-topa e "mexe com video" (rs!) e está em transição para coreógrafo. Resultado: fizemos tudo menos as duas imagens iniciais. Viva a liberdade! A partir da escrita automática, elenquei algumas possibilidades e tocamos esse barco adiante. O rapaz agora está com o pepino da edição nas mãos! Achei ótimo porque alguns elementos se abriram para mim como possibilidades concretas de investimento. Vamos trabalhar!

domingo, 15 de maio de 2011

Liz Aggiss

Gus, dei uma surtada aqui com este vídeo:


E com a artista, tô doida fuçando a criatura na net. Olha o site:


Várias coisas interessantes, achei de cá!

Ah! Propus um título provisório para a mostra de junho, "Contravento". Não sei porque ainda... Pensemos!

Como andam os vídeos? De cá, aviso que vou atrasar um pouco...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Organizando as caixinhas

Foi numa conversa com Laura Franco no café do Palacete, pertinho de Rodin, que pensei no local. Laurinha foi a protagonista da primeira peça que eu escrevi e dirigi, a minha Miudinha. Ótima pessoa, ótima atriz, ótima produtora-pensante das artes. Falamos sobre o solo dela, "Rugas", trabalho sobre memória, sobre mulher, sobre velhice, delicado, cheio de miudezas da pesquisa que ela enveredou fazendo de tudo que foi jeito, pelo silêncio, pela ausência de movimento, através da estadia e das conversas em Milagres, puxando da memória a memória de todas as vozes que ouviu e guardou em algum canto inesperado da mente. O que foi virando cena me pegou no canto em que me afino no sentimento de ser neta e de amar ter uma avó. Conversamos muito e fui mancomunando coisas sobre o tempo dos velhos, um tempo muito diferente do meu, um tempo diferente para investigar, alguma desaceleração. Conversava e olhava para o banco. Fim de semana estive em Oliveira, a terra dos meus maiores devaneios (tudo bem, Bachelard?) de infância. Minha avó me emprestou dois vestidos, um deles ela quer que eu use na vida. Não sei se chego a tanto, mas trouxe comigo por que pela via do afeto (tudo bem, Laurinha?) ele pode ficar e virar o que quer que isso tudo vire. Uma parte de muitas coisas. Fechei o video, a foto, o som. Adoro ter amigos-parceiros-amigos. Vou retomar a leitura do caderninho e volto com mais nortes. Não consegui registrar a conversa, porque meu mp4 descarregou no buraco que é a minha bolsa. Oremos às vacas!

Segunda Imagem Poética

Estou sentada em um banco na área externa do Palacete das Artes. Perto de uma escultura. O vestido é branco que minha avó me emprestou especialmente para a ocasião. O movimento é margeado. Depois passo com muitos balões de gás na ponte. Estou de volta ao banco, um balão tampa meu rosto. O rosto anterior era muito pálido. A terceira vez é Macabéia.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Bobaginha

Nada demais, só tava vendo isso e lembrei do teu vento mexendo em tudo menos no cabelo.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Tarefinha da Semana

Elaborar uma composição usando a mídia de sua preferência (foto, video, dança, teatro, video-instalação) a partir da estrutura, assunto, visualidade e variações temporais presentes nas escritas automáticas. Incluir um fetiche.
Prazo: De 10 a 17 de maio.
Dicas:
Tradução é versão
Literariedade - como traduzir a margem do papel no video?
O que a gente produz de discurso sobre a gente
O que a gente é
O que a gente pensa que é

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nota de rotina

Primeira conversa ao pé do peito agendada. Almoço no café do Rodin, com Laura Franco, nesta sexta-feira. É lá que penso em fazer uma primeira foto disso tudo. Vamos ver.


terça-feira, 3 de maio de 2011

In my language

A Michelle me mostrou isso quando eu tava começando a pesquisa pro Pig Lalangue (o solo que eu vou apresentar aí) e eu fiquei bem impressionado. É uma moça, autista, que faz vários vídeos compartilhando como ela percebe as coisas. Eu fiquei pensando o que seria a memória, nesse caso, em que a língua não é a mediadora principal do pensamento.



segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um dos nossos primeiros pontos de reflexão

Pensamos em memória como ficção, ok? Falamos dos recortes e estratégias de ficcionalização inerentes ao ato de contar, uma vez que memória # de experiência vivida. Achei esse texto interessante, traz um ponto de vista diferente, não concordei muito, mas vale a leitura:


"The information about ourselves that we record online is the sum of our relationships, interests and beliefs. It's who we are." Complicado ser reduzida ao fragmento editado que coloco na net que, de maneira alguma, documenta com precisão e "alma" a minha experiência vivida. Aliás, qualquer "documentário", nesse sentido, é impossível.

Extensão de uma conversa que tivemos

A história de nossa infância não é psiquicamente datada. As datas são repostas a posteriori; vêm dos outros, de outro lugar, de um tempo diverso daquele que se viveu. Pertencem exatamente ao tempo em que se conta . Victor Ségalen, grande sonhador de vida, sentiu a diferença da infância contada e da infância restabelecida numa duração que sonhamos: "Contamos a uma criança um traço qualquer de sua primeira infância, ela o memoriza e o utilizará mais tarde para se lembrar, recitar por sua vez e prolongar, pela repetição, a duração factícia, em outra página', Victor Ségalen diz que gostaria de redescobrir "o primeiro adolescente", reencontrar-se realmente, "como na primeira vez", com o adolescente que ele foi. Se as lembranças nos forem ditas com demasiada freqüência, "esse fantasma raro" já não passará de uma cópia sem vida. As "lembranças puras" recontadas incessantemente tornam-se ladainhas da personalidade.

Ainda Bachelard.

Tio Gaston

O passado não é estável.

Bachelard, p.103.

Do montinho desparatado

Há vida sem causalidade? Memória não busca conseqüência, costura retalhos esparsos no tempo, quando o faz. Chave?

Ainda Bachelard

A memória é um campo de ruínas psicológicas, um amontoado de recordações.

Do meio de um outro estudo

E foi assim que escolhi a fenomenologia na esperança de reexaminar com um olhar novo as imagens fielmente amadas, tão solidamente fixadas na minha memória que já não sei se estou a recordar ou a imaginar quando as reencontro em meus devaneios.

Bachelard, Gaston. A poética do devaneio.

Primeira Imagem Poética

Estou sentada numa cadeira de madeira embaixo de um varal de roupas secas. Muito vento faz com que tudo se mexa. Menos meus cabelos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Nova proposta de tarefa

A gente tinha meio combinado de conversar sobre a escrita automática ao final de uma semana, que completa amanhã se não me engano. Mas aí eu fiquei pensando que não adianta muito essa conversa se a gente não escolher previamente o que vai observar. Aí, pensando nas questões que já apareceram até agora, eu queria propor uns pontos, pra você reler esse material assim que concluir (acho que não precisa ler tudo tudo, é mais um scanning), e ir anotando (isso pode ser no computador).

Fiz uma separação meio capenga de tipos de questões, que é mais metodológica que real.

DO ASSUNTO:
- De que se fala com mais frequência? (É cotidiano? Observação? Descrição? Divagação? São coisas próximas ou distantes?)
- De quem se fala com mais frequência? (De você? Dos outros? De gente que você conhece? Gente famosa? Gente presente? Gente que você não vê faz tempo?)
- Pra quem se fala? (Dá pra identificar a quem se direciona essa escrita? É mais em primeira, segunda ou terceira pessoa? Os interlocutores variam?)
- Existem pontos que você identificaria como ficcionais? E reais?(E, nesse caso, o critério usado pra chamar de ficção e realidade também seria legal anotar)

DA ESTRUTURA:
- Que tipos de organizações de pensamento aparecem? (Tem títulos? Tópicos? Flechinhas? Desenhos? As ideias se completam? Ficam abertas? Somem e reaparecem? Tem parágrafos? Tem linhas soltas? As frases são mais curtas ou mais longas?)
- Como você lida com os erros? (Risca por cima? Continua como se nada tivesse acontecido? Descreve o erro?)
- Como são as pontuações e sinais gráficos? (Tem muitos parênteses? Vírgulas? A pontuação é certinha? Só quando pinta?)
- Tem interrupções ou pausas? Como elas são sinalizadas?
- Existe algum padrão pra começar e terminar?

DO DESENHO:
- Como é a letra? (Fluida? Feia? Caprichada? Corrida? De forma? Borrada?)
- Como o texto se distribui na página (Uniformemente? Disperso? Grudadinho? Segue margens e linhas?)

DAS VARIAÇÕES:
- Seria legal se você pudesse anotar também se há variações em todos esses aspectos ao longo do tempo, em duas categorias: as que aconteceram ao longo da semana, e as que aconteceram ao longo dos 15 minutos de cada dia.

DAS EVOCAÇÕES:
- Também acho legal anotar os momentos na releitura, que evocaram, ou que mais evocaram, sensações, sentimentos, afetos, texturas, cores etc. do momento da escrita e se existe algum padrão pra que isso aconteça.

Aí, se você topar, a gente pode marcar de conversar depois disso, porque acho que algumas coisas vão estar mais claras. Vc dá o sinal.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Entrando

Fui para as Neurociências hoje. Achei esta entrevista:


Ivan Izquierdo tem dois livros interessantes que pensei em consultar: Questões sobre memória e A arte de esquecer. Tô pensando...

Fiz comentários no post anterior durante minha leitura da entrevista. Adoro as passagens em que ele busca exemplos na literatura, na música, no cinema para nos fazer compreender a memória.

Rebuliu várias coisas por dentro. Não é assim que começam os furacões?

Pirilampos, aqui vaga-lumes

Memória demais escraviza, memória de menos também. Memória é imaginação.

Alice de Tim

Sobre a Alice de Tim:

http://www.tylershores.com/2010/03/10/aliceinwonderlandreviewed/

Alguns pontos-chiclete:

A Alice do filme de Tim Burton, agora com 19 anos, volta a Wonderland (Underland) sem memória de que lá já esteve. As pessoas do lugar se perguntam se esta Alice é aquela Alice. She doesn’t seem to understand.

There’s no time for childlike indulgence at tea parties this time around before being rushed off to the next danger: there’s work to be done. Fate, determinism and free will are some of the central themes – how can Alice choose her own path, as she is determined to do, if destiny has already foretold that she is the one to take up the Vorpal Sword and save the day?

The visual story that is being told is one of desolation and darkness – perhaps the implicit question to be asked in such a style is that, in the absence of wonder (from “wonder” to “under”), what then is there?

Such is the challenge of working within an old story is how to make the familiar unfamiliar.

Vamos fazer microfilmes?

domingo, 24 de abril de 2011

Alice in Wonderland and The Philosophy of Memory

http://www.tylershores.com/2010/03/13/alice-and-the-philosophy-of-memory/

Achei esse livro na internet, e me interessei por esse capítulo em particular. Ele colocou só um pedacinho no site, mas já mandei um e-mail bem cara de pau, perguntando se ele não pode mandar o capítulo na íntegra pra gente.

sábado, 23 de abril de 2011

Daniel Kahneman: O enigma da experiência x memória



Ou clicando aqui dá pra ver com legendas. 

Exercício de memória número um

- Blog (Check)
- 15 minutos de escrita durante uma semana no caderninho (em processo)
- Conversas com pessoas afins (gente fina elegante e sincera) (será?)
- Definir a metodologia da metodologia com as pessoas (oh, God!)
- Datas (verificar/marcar fixo)

Para Maria da Graça

Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo" Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor`.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

Paulo Mendes Campos