sábado, 23 de abril de 2011

Daniel Kahneman: O enigma da experiência x memória



Ou clicando aqui dá pra ver com legendas. 

6 comentários:

  1. "We choose between memories of experiences. Even when we think about the future, we don't think of our future normally as experiences, we think of our future as antecipated memories".

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  2. Eu gosto também quando ele fala da importância dos finais, como o final muda toda a memória que se tem de uma situação.

    Essa parte: "what defines a story are changes, significant moments, and endings. Endings are very very important" (6:38 - 7:00). Porque me parece que aí tem uma chave pra pensar em narrativa.

    Quando eu falo em narrativa, não to usando o sentido mais recorrente (personagens, trama, conflito), to pensando mais em como as informações se sucedem no tempo. Por exemplo, tem um monte de festivais e eventos gringos de time-based arts, onde entra performance, teatro, dança, literatura, música, e até fotografia e pintura paradinhas, desde que tragam uma preocupação com a sucessão de informações no tempo, em relação ao público. A informação que é percebida primeiro, a que vem depois, quanto tempo dura cada uma.

    Eu to achando que, qualquer que seja o formato final, narrativa e estrutura narrativa são questões importantes pra esse processo, porque a memória depende de narrativa. (Ainda não sei se narrativa é o melhor termo, mas não achei outro melhor)

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  3. Outra coisa que eu fiquei pensando é nessa equivalência que ele faz entre MEMÓRIA e FICÇÃO: "What defines a story? - and that is true for the stories that the memory delivers for us, and also true for the stories that we make up..."

    Porque eu acho que não tem tanta diferença assim entre essas duas coisas. Esses dias eu tava conversando com a minha irmã sobre o dia em que os meus pais se separaram. Foi uma história que aconteceu há mais de 20 anos, e o engraçado é que ela tinha uma memória completamente diferente da minha. Um certo tanto de fatos eram os mesmos, mas, por exemplo, ela lembrava de um dia chuvoso e eu lembrava de um dia de sol. A gente poderia consultar outra pessoa que também participou da situação, mas, como a gente não fez isso, a história é fictícia para os dois, no que se refere ao clima. O que torna a memória real é o COMPARTILHAMENTO.

    Por outro lado, eu tinha/ainda tenho o hábito de contar histórias dos outros como se fossem minhas. Por uma questão de timing humorístico: se você conta uma história em primeira pessoa é mais fácil tornar ela engraçada. Só que algumas eu já conto há tanto tempo, e já estão enraizadas na minha memória, com tantos detalhes, que eu realmente não sei mais se me aconteceram ou não.

    E tem outras histórias ainda, que eu tenho certeza que me aconteceram, mas que por contar muitas vezes, já não me dão mais a sensação de realidade, não me afetam mais quando eu conto. Eu já sei o timing necessário pra provocar riso, não preciso mais da memória. Então, compartilhar modifica a memória e, consequentemente, a experiência. Torna a experiência mais ou menos REAL ou FICTÍCIA.

    Pra mim arte é necessariamente uma ação de compartilhar. E eu to achando também que esse trio REALIDADE-COMPARTILHAMENTO-FICÇÃO também nos diz respeito.

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  4. Resposta I - Faz bastante sentido pensar em narrativa e acho que é este mesmo o nome, exatinho como você falou, como uma sucessão de informações no tempo, uma vez que memória tem me parecido aquilo que editamos e re-editamos da experiência, aquilo que muda como mudam as leituras de um livro ao longo do tempo, aquilo que é tão nosso conforme nos apropriamos dele/dela, aquilo que inventamos do que vivemos.

    Pergunta: o que "apagamos" também é memória?

    Vou ver de novo "Brilho eterno de uma mente sem lembranças".

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  5. Resposta II - Eu também passo por isso constantemente. Nos dois sentidos, tanto no tomar emprestada a memória alheia e, pela apropriação, tornar esta memória minha a ponto de não saber como começou, como na sensação de já nem precisar mais daquele senso de realidade para motivar a história contada. Muitas vezes ouço memórias minhas contadas por outras pessoas como se fossem de outras terceiras pessoas. Muitas vezes me aproprio tanto de outras histórias que as autorias já nascem embaralhadas. Quem me contou isso mesmo? Como isso chegou até mim? Talvez tenha o quem conta um conto aumenta um ponto e tenha também algum tipo de força de algumas "memórias" para além de seus autores, formas de contar e motivações.

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  6. No fim das contas, toda vez que contamos algo, seja em que área for, necessariamente, estamos recortando, elegendo, costurando - estabelecendo algum tipo de construção, de ficção. Tenho angústia disso muitas vezes, tudo é construção, parcial, provisório. Aprendi (aprendo) a viver sem as verdades fixas (fui criada com várias delas) e gostando de olhar para as pessoas que produzem os discursos. Quase sempre apontam para outras maneiras de ver. Memória-ficção. Escolha consciente ou inconsciente? Existe isso? Quem falou? Tenho uma colega que estuda literatura como memória. Mesmo aquela que não se pretende memorialista.

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