segunda-feira, 2 de maio de 2011

Extensão de uma conversa que tivemos

A história de nossa infância não é psiquicamente datada. As datas são repostas a posteriori; vêm dos outros, de outro lugar, de um tempo diverso daquele que se viveu. Pertencem exatamente ao tempo em que se conta . Victor Ségalen, grande sonhador de vida, sentiu a diferença da infância contada e da infância restabelecida numa duração que sonhamos: "Contamos a uma criança um traço qualquer de sua primeira infância, ela o memoriza e o utilizará mais tarde para se lembrar, recitar por sua vez e prolongar, pela repetição, a duração factícia, em outra página', Victor Ségalen diz que gostaria de redescobrir "o primeiro adolescente", reencontrar-se realmente, "como na primeira vez", com o adolescente que ele foi. Se as lembranças nos forem ditas com demasiada freqüência, "esse fantasma raro" já não passará de uma cópia sem vida. As "lembranças puras" recontadas incessantemente tornam-se ladainhas da personalidade.

Ainda Bachelard.

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