segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um dos nossos primeiros pontos de reflexão

Pensamos em memória como ficção, ok? Falamos dos recortes e estratégias de ficcionalização inerentes ao ato de contar, uma vez que memória # de experiência vivida. Achei esse texto interessante, traz um ponto de vista diferente, não concordei muito, mas vale a leitura:


"The information about ourselves that we record online is the sum of our relationships, interests and beliefs. It's who we are." Complicado ser reduzida ao fragmento editado que coloco na net que, de maneira alguma, documenta com precisão e "alma" a minha experiência vivida. Aliás, qualquer "documentário", nesse sentido, é impossível.

4 comentários:

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  2. Fiquei pirando muito aqui. Achei legal esse texto porque aponta prum caminho novo. Até então a gente vinha pensando em memória como pessoal, como construtora de identidade, como cognição, etc.

    Esse texto aponta pra uma memória que a gente produz no mundo, uma memória em relação com outras pessoas, e em relação com a história. Nesse sentido, este blog, por exemplo, é uma memória, pública, histórica.

    Mas aí eu vejo uma diferença que o texto não aponta, não sei se alguém já falou disso. Mas tem a memória que a gente produz e a memória que é produzida sem o nosso consentimento. Os atores mudam. É diferente a gente optar por escrever o que a gente escreve neste blog, ou no facebook, e o fato do Google ter um registro das páginas que eu acessei, pra orientar a publicidade que aparece no meu e-mail.

    O blog, de certa forma, sou eu. Um eu público, que não fala tudo de mim, assim como eu não falo tudo de mim quando eu sento numa lanchonete e peço uma coxinha (Assim como na web, outras pessoas podem escolher ler coisas que eu não escolhi mostrar. Da minha postura, da minha voz, do meu jeito de sentar. Eu escolhi mostrar "Moço, me dá uma coxinha").

    Mesmo assim, o que eu escolho, ou sei mesmo sem escolher (eu sei que o meu cabelo tá despenteado e que isso gera leituras, mas não foi o que eu escolhi mostrar), compartilhar de mim com os outros, nunca vai ser o todo. (Acho que nem comigo mesmo)

    Mas esse mapa virtual que eu vou deixando de mim, sem saber, talvez seja mais preciso em me descrever do que o meu corpo presente. O que não sei se é bom. É meio assustador.

    Agora, acho que mais interessante que isso, pelo menos pra mim agora, é pensar nessa memória pública, que memória a gente tem e produz como pessoa pública. Uma ideia que ficou forte pra mim desse artigo foi a morte.

    A partir daquele texto do Izquierdo e do Shore e desse agora, consigo pensar numas equivalências metodológicas assim:

    EU = MEMÓRIA
    MEMÓRIA = LINGUAGEM
    LINGUAGEM = COMUNICAÇÃO
    COMUNICAÇÃO = EU PÚBLICO
    EU PÚBLICO = EU

    Dá pra acompanhar? O Izquierdo e o Shore falam que a sensação de eu, e portanto o eu, só existe por causa da memória. O Izquierdo diz também que só lembramos daquilo que podemos descrever (linguagem). A linguagem é pra comunicar, portanto do âmbito público (bem discutível isso). Logo, eu só existo publicamente.

    Isso validaria essa ideia de que a memória que eu produzo sobre mim na web ou no mundo real, sou eu, no final das contas.

    Quando eu falei de equivalência METODOLÓGICA, é porque eu não acho que esse raciocínio corresponda à minha experiência. Eu realmente acho que tem muito mais em mim do que o público, mais do que eu mostro, mais do que eu sei, mais do que eu transformo em linguagem. Mas o raciocínio faz sentido, então, se eu quiser desmontá-lo, eu preciso provar que existe uma memória não-linguística.

    E imagino que exista também uma equivalência entre essa memória não-linguística do âmbito privado (aquele suposto universo de cores, sons, sensações e afetos não descritíveis de mim pra mim mesmo) e esses traços que a gente deixa involuntariamente na web e na vida (a postura, o gesto, a interpretação alheia, o histórico dos sites visitados).

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  3. Afe, ce foi chamar uma pessoa doida pra trabalhar, se fodeu.

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  4. Hahaha!!! Essa é a delícia do trabalho, trabalhar com essa pessoa doida!!! Acho o tópico massa, inclusive por se a gente surtar, cria uma pessoa com memória, rg, cpf, orkut e facebook, manipula e isso em si já pode ser mais uma mídia/braço do trabalho. Tudo perene e editável, abarcando o todo e o mínimo possível a depender de onde e de quem olhe...

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